sábado, 25 de setembro de 2010

Quando o coração quer colo

Finalmente, aconteceu o melhor: eu entreguei os pontos. Tem hora em que deixar-se vencer pelo cansaço é que é vitória. Não para ficarmos morando nele, pois quando cansaço passa a parecer casa já virou cilada. Deixar-se vencer pelo cansaço, às vezes, só para a coragem descansar um pouco, tomar ar, beber uma água, estirar as pernas. Outras, para desistirmos de tentar ignorar o pedido de escuta do nosso coração, que está cheio de coisas pra nos dizer, meio doído, meio assustado, meio aperreado, carente do olhar da gente. Querendo tempo. Querendo colo. Querendo abraço com os braços bons da ternura.
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Por preguiça afectiva, pra não darmos confiança para alguns sentimentos, pra economizarmos lágrima, por medo de que desminta as mentiras que nos contamos por comodismo, a verdade é que muitas vezes desconversamos quando o nosso coração tenta puxar assunto. E, não é raro, desconversamos com a maior cara-de-pau do mundo. Desconversamos com os recursos mais costumeiros, com outros inéditos, alguns até bizarros. Para esse tipo de escuta, quando é a nossa vida que está na berlinda e não a alheia, bem mais do que coragem, há que se ter também muito amor.
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Então, finalmente, aconteceu o melhor: eu entreguei os pontos. Cansei de resistir ao papo. Procurei um lugar confortável em mim, diminuí o volume dos ruídos todos do lado de fora, pausei os afazeres, sem mais nenhuma resistência e com toda honestidade amorosa de que era capaz. Disse pra ele: “Fala, meu querido.”
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E ele falou tudo o que sentia e tudo o que sentia era legítimo. Chorámos juntos sem economia de instante. Desapertou. Desapertámos. Respirámos mais macio. Criámos espaço, os dois. Combinámos deixar coisas pra trás e seguir em frente, mais leves. Combinámos que nem sabíamos direito como era isso de seguir em frente, mas que ali onde estávamos também não havia mais jeito de retorno. Combinámos que descobriríamos, juntos, ao caminhar.

1 comentário:

  1. Assumir o cansaço, parar e ter a humildade de chorar junto com o coração é das coisas mais simples e mais belas que o ser humano pode fazer.
    Assim se vê um vencedor e não um ganhador...
    É um acto de coragem, porém... Mas de muito AMOR por nós mesmos também... Seguir em frente sim, descobrir novos caminhos talvez... Mas quem tem coragem para virar a página?

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